Maldição (parte um, rascunho)

  Meu nome é Ana, e hoje escrevo neste diário, neste maldito diário, minhas mãos calejadas e trêmulas descrevem um sofrimento ébrio que jamais achara que sentira novamente, até aquela maldita noite, a noite de ontem, o demônio, ele estava ali, e eu juro, ele sorriu.
  Antes de explicar quem sou eu, até porque talvez eu não sobreviva mais que esta noite, eu falarei de Samara, Samara é minha mãe, ou era, até aquele dia, minha mãe era uma mulher muito simples, mas sempre batalhadora, ela trabalhava nas lavouras do campo, não teve a oportunidade (que sou extremamente grata, a ela e a Deus) de desfrutar de um belíssimo livro assim como eu!
  Ah, mas minha mãezinha sempre teve um belo sorriso! Ela me dizia que que uma mulher sem um sorriso elegante para um homem era como um campo grande sem frutos, era só desperdício de espaço. Então ela sempre me ensinou a esboçar o mais belo sorriso que pudera uma mulher esboçar! Um sorriso puro, singelo, sem mágoas, a verdade é que durante o reinado do Czar não poderíamos ter tempo de ficarmos magoada, ou trabalhávamos e comíamos, ou chorávamos e morríamos de inanição. Ver minha mãe com sua pele pálida nesse inverno prussiano é terrível! Mas ela me deu muito amor!

O dia em que ela conheceu meu pai:

  Bom, minha mãe sempre ficava um tanto sem graça e até mesmo séria quando comentava do dia que conheceu meu pai, uma vez ousei-me questioná-la e sem pensar duas vezes ela me agrediu a face! Nunca entendi o medo que minha pobre e frágil mãezinha tinha de meu pai.
  Meu pai era um homem alto, branco como marfim, ele tinha o péssimo hábito do tabagismo, o que era uma pena, sempre fazendo ficar fedendo a fumo, seus dentes amarelados contrastavam com o branco de sua face, minha mãe o chamava carinhosamente de молоко (moloko / leite) ela me contou que conheceu ele no dia em que havia uma marcha marcial, o exército do Czar se vangloriavam com suas belíssimas roupas caras que somente o pessoal da Elite Czarista poderia ter.
  "Naquele dia, teu pai trajava aquela farda, ah! Que farda linda! Era vermelha com uma estrela prateada no dorso, teu pai destacava-se de todos com o seu bigode, sabe, filha, o bigode de um homem é sua maior virilidade!" dizia minha mãe sempre que se recordava do meu pai, ela também me contou que quando começou a conversar com meu pai a única coisa que eles faziam era troca de olhares e sorrisos, sorrisos platônicos, afinal, ele não poderia responder por conta da corte marcial. Meu pai era um guerreiro, ele defendia a nossa pátria, a nossa grande mãe Russia, seriedade era um pre requisito, entretanto, meu pai, com sua face enrugada, testa alta e queixo alongado sempre com um ar de ódio, num dia minha mãezinha estava doente e tossindo sangue caiu na frente da cavalaria do exército, seria um vexame daqueles, afinal, nós mulheres do campo somos indignas da Elite, mas meu pai na época não havia conhecido direito a segregação social... (continua/teste) 

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