Inferno Nórdico

Eu sou um refém, um refém dos meus atos, eu sou livre a ser condenado, eu sou condenado a ser livre, minha mente é cativeiro, minhas ideias é o almoço azedo oferecido pelo carrasco.
Eu mato ideias para elas não me matarem, eu ando em solo pois já estou em bandos demais, vagando de mundo em mundo em minha imaginação, eu fecho os olhos e entro dentro de mim, eu fecho os olhos e as lágrimas vem, tão úmido quanto a volúpia dela, tão suja quanto meu desejo por ela, é assim a minha mente.
Um inferno, um inferno, eu sou o diabo, tudo pegava fogo, tudo que eu via era caos, tudo que havia era morte e sangue, destruição e apatia, eu tive medo pela primeira vez de voltar a ser quem eu era, hoje sei que já não era mais o mesmo que eu fora e tampouco sou o mesmo que eu fui, ontem um antigo demônio não esteve ao meu lado, um sentimento grande de culpa, de ódio de mim mesmo, de nojo, pela primeira vez me orgulhei de ser um macaco.
Eu não me odiei, um antigo sentimento de culpa, de isolamento, eu queria tê-lo novamente, eu queria a busca pelo silêncio, e tudo que eu encontrei era barulho, pela primeira vez a cifra não teve sentido, pela primeira vez, depois de exatos 416 dias, eu mudei, fato, eu estava triste e queria fugir, mas a tristeza era tanta que me impossibilitou a fuga.
Enquanto o meu coração se esquentava a minha mente esfriava, estaria eu perdendo quem eu sou? Sempre fui o que buscava a chama em meio ao quarto escuro, sempre fui o que adentrava a mata densa a noite para encontrar o assassino que pudesse tirar a minha vida, sempre fui o que sempre mudou, sempre evolui e sempre agradeci pelas evoluções, quando eu percebi que havia mudado eu menti, disse que nada muda pois eu não queria aceitar que de fato eu não era mais aquele com a chama nos olhos, eu só tinha vinte cigarros e nada de felicidade.
Hoje tenho uma felicidade e nada de cigarros, as fumaças se foram, o fogo extinguiram, eu estava perdido e me encontrei, me encontrei no Alpe da montanha, eu entendi o que Zaratustra disse aquela tarde, naquela tarde eu percebi que eu estava mudado, minha mente esfriou, eu já não sou mais o mesmo, o inferno não existe mais, hoje é um abismo gélido, um inferno nórdico, esqueça Geena, esqueça Lúcifer, eu sou um homem de neandertal, eu só busco prazer em meio a sistematização, eu sou doente, e meu inferno é frio, minha mente esfriou quando pela primeira vez eu senti um toque voluptuosamente singelo, havia o desejo inocente.
Sempre houve a inocência, eu sempre fui o predador, um maldito predador, em medo, caçado, sempre ameaçado, eu mesmo me predava, e eu tinha visões, morte, fuga, escondendo-me diante o mal.
Tudo mudou ao toque dos lábios, tudo mudou ao umidificar meus dedos pela primeira vez, eu estava diante o poço de lázaro, eu estava diante da visão que nunca sairia da minha mente, o gosto das águas turgidas da fonte da vida era totalmente rejuvenescente, eu não sabia, mas eu me tornaria Ra's Al Ghul, frio, imortal, renascido a cada gole, dominando ciências ocultas, tornei-me um sofista, ensinando os caminhos da sombra àqueles que me buscam, tudo mudou, tudo esfriou.

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